No fim do ano, o brilho toma conta das ruas, as casas se enfeitam e a cidade se prepara para celebrar o encontro, a fartura e a alegria. Mas há lugares onde esse brilho não chega — territórios inteiros fora do alcance das políticas públicas e da visibilidade do Estado. É nessas regiões, onde o ânimo muitas vezes se apaga, que a solidariedade ilumina caminhos e renova o sentido do Natal. É com esse espírito que a Ação da Cidadania lança o Natal Sem Fome 2025, a maior mobilização social do país, sob o mote “Ilumine o Natal de quem precisa”. Em todo o Brasil, milhares de pessoas se unem nesse propósito comum: transformar a fome em esperança. As doações já podem ser feitas pelo site www.natalsemfome.org.br.
“Todos os anos levamos alimentos para famílias que parecem invisíveis aos olhos da sociedade e dos governantes. São histórias que soam distantes, mas que estão muito próximas — nos grandes centros, nas nossas rotinas. Quem trabalha no supermercado, na feira ou no restaurante muitas vezes volta para casa com fome, porque não tem dinheiro para se alimentar. E, quando tem, recorre a refeições rápidas, ultraprocessadas. Ou seja, permanece em insegurança alimentar”, explica Rodrigo “Kiko” Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania.
De norte a sul do país, mais de 3 mil comitês comunitários, como são chamados os voluntários da Ação da Cidadania, se mobilizam para mapear famílias em vulnerabilidade e garantir que cada cesta chegue a quem precisa. Eles atravessam ruas, vielas e estradas levando mais do que alimento: levam presença, cuidado e o sentimento de que ninguém deve passar o Natal sem ter o que comer. São essas ações que iluminam lares e renovam esperanças, fazendo o Natal Sem Fome acontecer. A meta de 2025 é distribuir mais de 2 mil toneladas de alimentos em todo o país.
Apesar do Brasil ter saído do Mapa da Fome, a insegurança alimentar ainda é uma realidade persistente no país. De acordo com dados do IBGE (2024), cerca de 24,2% dos domicílios brasileiros ainda vivem com algum grau de insegurança alimentar, o que representa mais de 60 milhões de pessoas sem acesso pleno e regular à alimentação adequada. Entre os lares afetados, quase 60% são chefiados por mulheres, e a fome atinge de forma desproporcional crianças e famílias com baixa renda.
Entre uma cesta doada e outra, o que se acende não é só a luz de um lar, mas o sentimento de pertencimento. Cada entrega carrega histórias de dignidade reconstruída, de famílias que voltam a ter o que pôr na mesa e de pessoas que se reconhecem como parte de um mesmo país. O Natal Sem Fome é sobre alimento, vínculo e o poder de enxergar o outro e fazer da solidariedade um gesto de continuidade, não de exceção.
“Em 2025 o Betinho teria feito 90 anos, e se vivo fosse hoje, estaria indignado como todos nós com as milhões de pessoas que ainda passam fome. É importante termos saído do Mapa da Fome, mais uma vez, mas a insegurança alimentar está longe de ser erradicada. Aliviar a fome, pelo menos no Natal, sempre foi o objetivo desta campanha, que é simbólica e potente ao mesmo tempo. Não podemos esquecer a importância da solidariedade como valor fundamental para qualquer sociedade e que o alimento é um direito universal e constitucional no Brasil. Seria o sonho do meu pai, e o melhor presente que ele poderia receber, que a campanha do Natal Sem Fome não seja mais necessária, mas enquanto for, a Ação estará convocando, mais uma vez, a população a fazer a sua parte. Erradicar a fome é o próximo passo, afirma Daniel Souza, presidente do Conselho da Ação da Cidadania e filho de Betinho.
A edição de 2025 tem a parceria de Americanas, Ancar Ivanhoe, Casas Bahia, Coca-Cola, Construtora Barbosa e Melo, Grupo Fleury, Metrô Rio, Petronect, Pluxee, Rio Ônibus, VLT Carioca e Wilson Sons.
Criada por Betinho (Herbert de Souza) em 1993, a iniciativa segue firme com o mesmo propósito que a inspirou há mais de três décadas: garantir o direito à alimentação e reafirmar que o Natal acontece quando a luz de todos entra em ação.